Artes plásticas
Emília Ferraz

Se Cuba é uma profusão de cores, a sua arte é uma paleta variada que fascina o espectador. A pintura cubana é a mais genuína das expressões plásticas do país e tem reconhecimento internacional.

As manifestações artísticas sempre foram influenciadas pelos períodos marcados de sua história política.

Até o século XIX, era predominantemente uma arte religiosa. Mas partir da fundação da Academia de San Alejandro começa a surgir no país uma pintura de criollos, para satisfazer o gosto da burguesia local.

O academicismo seguiu reinando até a reação vanguardista dos anos 1920 que inaugurou um novo momento da pintura cubana, o modernismo.

O movimento moderno teve a primeira e mais importante exposição em 1927 com obras de Eduardo Abela, Víctor Manuel, Antonio Gattorno e Carlos Enríquez, entre outros. Em 1937, o Primeiro Salão de Arte Moderna foi um marco da nova fase e consolidou os nomes de René Portocarrero, Amélia Pélaez e Mariano Rodriguez. Na década de 40, Wilfredo Lam retorna de uma longa estada na Europa, onde conviveu e compartilhou novas técnicas com Pablo Picasso. Um ano depois realiza a obra La Jungla, adquirida pelo Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma).

Com a revolução, em 1959, as artes plásticas são fortalecidas e ganham a Escuela Nacional de Artes Plásticas e o Instituto Superior de Arte.

Nas últimas décadas, obras de artistas como Roberto Fabelo, Zaída del Rio, Tomás Sánchez, Carlos Garaicoa, Kcho, Manuel Mendive e muitos outros confirmam o patrimônio mais importante desse período.

Artes plásticas
Eugenio Rivero

Durante os primeiros séculos do período colonial cubano teria sido impossível falar de uma arte pictórica propriamente nacional.

Em primeiro lugar, porque as manifestações artísticas, neste período, refletem a contradição do encontro entre uma realidade "nova" vista - entenda-se idealizada - e um "olhar" europeu que não sabia traduzir, esteticamente, a riqueza exuberante exibida no chamado "Novo Mundo".

O resultado deste encontro converter-se-ia no desfile iconográfico de figuras medievais e mitológicas, "onde cabem amazonas, índios acéfalos e cúpulas de cebolas" (Tonel), imersos nas paisagens pseudotropicais matizados pelos suaves tons crepusculares das escolas pictóricas européias. Casos apartes seriam, porém, as séries litográficas sobre cenas bélicas e os rascunhos dos artistas viajantes com valores de um realismo documental mais que propriamente artístico.

Em segundo lugar, porque um conceito de nacionalidade não apareceria em Cuba até os fins do século XVIII e, para ser mais preciso, este conceito consolidar-se-ia ao longo do século XIX até alcançar sua maturidade nas lutas de independência de l968 e uma verdadeira expressão política: A República em Armas.

A pintura no século XIX estaria conformada por duas vertentes fundamentais: uma de estilo realista - que daria continuidade à tradição espanhola e uma outra de influência neoclássica francesa - introduzida em Cuba pelo pintor francês J.B.Vernay, aluno do relevante David.

Dentro da tendência realista, agrupam-se os pintores e retratistas populares de fachadas e interiores. Suas obras estariam estampadas em prédios públicos, igrejas e residências privadas e sua temática abarcava desde cenas religiosas e políticas até anúncios de produtos comerciais. Figura de destaque neste período foi o pintor retratista ao fresco Vicente Escobar, formado nas academias espanholas e que chegou a ser nomeado Pintor de Câmara das Cortes. Esta linha realista, seguida por Escobar, encontraria na gravura sua máxima expressão desde os fins do século XVIII: técnica artística que se desenvolveu atrelada à crescente indústria tabaqueira.

Vinculado ao aumento do consumo e exportação do tabaco, foi-se criando uma maior preocupação com a apresentação das embalagens dos famosos charutos cubanos. Estas exigiam uma grande originalidade criativa. Os anéis, em torno dos charutos e as estampas, para toda e qualquer embalagem que se precisasse, eram enfeitadas com elegantes e vistosas gravuras, verdadeiras obras primas da arte miniaturista. Os temas destacavam a qualidade e a origem do tabaco cubano. Esta indústria atraiu muitos artistas estrangeiros como: Garnerey, Sawkins, Laplante e Mialhe e os cubanos Barrera e Barañano. Em todos eles existia um marcado interesse pelas apresentações das plantas e frutas tropicais, pelas vistas panorâmicas das vilas e dos engenhos, pelos cenários dos passeios das cidades e dos caminhos rurais, dando origem ao que seria o primeiro costumbrismo nas artes plásticas cubanas. Um outro estrangeiro, o pintor vascaíno Landaluce, desenvolveria o estilo satírico mostrando os diferentes tipos sociais que se iriam conformando na sociedade cubana no século XIX. Ainda que sua visão espanhola e parcial, por tanto esquemática e conservadora, não incluísse os acontecimentos políticos que se evidenciavam na ilha. Não é menos certo que refletia uma agudeza observadora, que lhe permitiam a testemunha da sátira.

Paralelamente a esta tendência realista, ia se conformando o academicismo, estilo de influência neoclássica, em torno à Escola de São Alejandro da Havana fundada em 1817 pelo pintor francês J.B. Vernay.

De forma geral, a Escola de São Alejandro, manteria um didatismo rigoroso em suas disciplinas, baseados nos cânones franco-italianos e nas reiterações de certos temas históricos, mitológicos e religiosos, mutilando qualquer espontaneidade criativa. A paisagem seria, talvez, a temática mais interessante pelo seu tratamento técnico, sobretudo por alguns artistas de grande sensibilidade. Porém, quando apareciam, em algumas das melhores telas, elementos da natureza cubana, estes eram tratados com os matizes e as luzes crepusculares da escola romântica de Fontainebleu.

Por outro lado, já alcançando o princípio do século XX, as influências das escolas espanholas impressionistas permitiam perceber uma maior liberdade e soltura nas pinceladas e uma luminosidade mais ousada. Aqui, agrupar-se-iam pintores como: Esteban Chartrand, José Joaquín Tejada e Rodríguez Morey com uma aproximação sentimental à paisagem; outros como Guillermo Collazo, de técnica muito elaborada, refletiam cenas pitorescas nas paisagens tranqüilas e idílicas a partir do olhar contemplativo; sob as influências espanholas, o pintor Romanach se destaca com as séries de marinhas, onde a luz iridescente de Cuba e sua incidência nas cores presumem uma ruptura com a paisagem idealizada das escolas européias. Um outro grupo, mais conservador, onde estariam, Esteban Domenech, Esteban Valderramas e Domingo Ramos entre os mais destacáveis, manter-se-iam afastados das estéticas vanguardistas.

Além destas temáticas, uma linha histórica seria tratada, sobretudo, pelo pintor Armando Menocal. Este artista, igual a outros, participou nas lutas pela independência e chegou a obter grados militares e condecorações, mas diferente daqueles, sua obra refletiria cenas da luta contra os colonizadores espanhóis, porém os tratamentos técnicos ficaram presos nas asfixiantes formas da academia escolástica.

O academicismo manter-se-ia até 1925, momento no qual as artes plásticas cubanas haveriam de se incorporar, rapidamente, às estéticas das artes contemporâneas. Muitos dos alunos destes pintores acadêmicos irromperiam em 1927 com as primeiras exposições da nova arte em Cuba.

A exposição da arte nova de 1927, patrocinada pela Revista de Avance, criada nesse mesmo ano, agruparia os primeiros pintores que revolucionariam a estética acadêmica do século anterior. Formados na escola de arte de San Alejandro, os pintores buscaram nas novas tendências da vanguarda européia as rupturas necessárias para misturar o genuinamente cubano e o popular.

Os artistas Victor Manuel, Rafael Blanco, Eduardo Abela, Carlos Enríquez, Marcelo Pogolotti, Antonia Gatorno e o escultor Juan José Sicre, entre outros, procuraram mostrar nas suas obras – um pouco ingênuas e folcloristas - uma identidade nacional.

Nesta primeira etapa, o objetivo fundamental era "limpar" a tradição acadêmica tanto nos temas como nas formas. Buscava-se representar a sensibilidade em contraste com o sentimentalismo, o genuíno em contraste com o retórico, o original versus o convencional, o sentido crítico versus sentido apologético.

A frustração da revolução de 1933, que derrubou o governo tirânico de Gerardo Machado, proporcionou uma atitude intimista voltada para cenários fechados. Elemento formais do "criollismo", como detalhes da arquitetura colonial, arcos, vitrais, pátios, de forma geral puramente decorativos, foram valorizados. O artista refugia-se e dedica-se a explorar e enriquecer o aspecto formal. São momentos de uma tendência que navega entre o hermético, o barroco e o decorativo.

Nesta etapa, surgem e consolidam-se alguns dos mais importante nomes da arte cubana do século XX: René Portocarrero, Mariano Rodríguez, Amélia Peláez, Luis Martinez Pedro entre outros. A figura maior desta geração é o pintor Wilfredo Lam.

De volta à Cuba, depois de uma longa estada na Europa, trouxe a experiência de Picasso e das vanguardas européias, das quais participou ativamente. Lam estabeleceu seu estúdio num bairro humilde de Havana e pintou uma das obras primas da arte contemporânea: La Jungla, acervo permanente do MAM de Nova Iorque.

Na linha de abstração e geometria estão os trabalhos de outro grupo de artistas como o húngaro nacionalizado cubano Sandú Darié, José Maria Mijares e Loló Soldevilla. Na escultura começa a desenvolver-se um estilo de formas maciças e monumentais com escultores como Marta Arjona, Eugenio Rodríguez e Rita Longa - mais estilizada e ornamental.

Em 1953, ocorre a primeira exposição de um grupo heterogêneo de pintores chamado Los Once. Este grupo desvincula-se do caminho anterior, que vai da incorporação das vanguardas européias aos temas sociais e nacionais, até chegar a um afastamento total do figurativo.

O tema do grupo será o abstracionismo total. Los Once era constituído por Antonio Vidal, o também poeta Fayad Jamis, Guido Llinás, Raúl Martinez, Hugo Consuegra entre outros, além dos escultores Díaz Peláez e Agustín Cárdenas.

Os anos 50 não se esgotam no grupo dos Once. Outros artistas iniciam sua carreira, tais como a pintora Antonia Eiris, Cervando Cabrera e José Lius Posada. Um caso especial é a obra intimista e extraordinária de Raúl Milián, em pequenos formatos.

A revolução de 1959 não significa uma ruptura definitiva das tendências até então predominantes nas artes plásticas cubanas. Elas conviveram durante algum tempo com as novas políticas culturais e artísticas influenciadas pelo clima político da época.

Este panorama inclui do último grupo dos pintores geométricos até a figura de Costa de Leon, além das obras estridentes e grotescas de Sosa Bravo. Algumas conseqüências da nova política foram a aparição do novo estilo gráfico cubano nos cartazes políticos e culturais e a fundação das escolas de arte: verdadeiras obras da nova arquitetura.

Também há um reaparecimento da charge política que originou cartunistas como Posada, Nuez, Chago. A fotografia tomou parte desta renascença como testemunha dos acontecimentos revolucionários, vinculada com a gráfica industrial e o desenho gráfico, com destaque para Korda, Mayito, Osvaldo Salas, El Chino López.

No final dos anos 60 começam a dar frutos os primeiros investimentos: formam-se os artistas das novas escolas de arte espalhadas pelo país. Duas figuras desta etapa são dignas de destacar: Ever Fonseca e Manuel Mendive.

A década de setenta nas artes plásticas cubanas foi dominada por uma estética voltada para as origens dos primeiros modernista cubanos. Reaparece a imagem do guajiro, o homem do campo, ao estilo de Abela e Carlos Enríquez, como símbolo do povo cubano.

Paralelamente, surge uma tendência panfletária, que priorizava o conteúdo ideológico nas obras descuidando o lado propriamente criativo. Alguns nomes importantes romperam com a tendência. Pintores como Ever Fonseca, Pedro Paulo Oliva, Zaida Del Rio - como uma obra rica e imaginativa - e Nelson Dominguez são as figuras mais representativas deste grupo.

Em meados dos anos 70 outros artistas como César Leal, Gilberto Frometa, Flavio Garciandia e López Marin fizeram uma incursão no foto-realismo mudando a imagem estereotipada e rural da arte cubana.

Nos anos 80 a arte cubana recobrou a capacidade de surpreender. A histórica exposição Volume 1 juntou um grupo de artista que, além de seu ecletismo, tirou da passividade criativa o espírito dos anos setenta.

Elementos do conceitualismo ocuparam o primeiro plano, aparecendo nos trabalhos de José Vedia, Ricardo Rodríguez, Arturo Cuenca, Juan F. Elso - do Grupo Hexágono, Consuelo Castañeda, Pérez Monzón, Gori e outros.

Paralelamente, outra tendência menos analítica seria inspirada na cultura popular urbana e em elementos do kitsch. Nessa corrente estão Flavio Garcendia e Rubén Torres Llorca. Outro grupo de artistas mais perto da transvanguarda desentenderia-se de toda influência conceitual, criando sua própria retórica. Aqui agrupam-se nomes como Humbero Castro, José Franco, Moises Finalé, Gustavo Acosta, entre outros.

Uma segunda geração desta década, que se estende até a seguinte, ampliará a relação com a cultura popular utilizando - com familiaridade - a ironia e o sentido lúdico. Nessa geração estão Lázaro Saavedra, Abdel Hernández, Félix Suazo, Aléxis Somoza e Tomás Esson.

As artes plásticas cubanas nesta etapa têm como característica um ecleticismo consciente com a intenção de buscar um espaço que possam questionar a sociedade.